quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Primeira notícia publicada

Associação Portuguesa de Turismo Acessível para Todos

«Há muita coisa que pode ser feita sem gastar muito»
Sílvia Bastos, Rui Lopes, Paula Portela, Carla Filipe, Ana Oliveira e Isabel Franco (da esq. para a dir.) constituem o grupo de trabalho da APTA

A APTA – Associação Portuguesa de Turismo Acessível Para Todos ainda não existe no papel, mas já está a preparar um conjunto de iniciativas para tornar o turismo em Aveiro mais acessível aos que se movimentam com dificuldade. Composta por um grupo de pessoas ligadas ao turismo e às necessidades especiais, a APTA vai prestar serviços de formação, informação, consultadoria e animação. A data para a constituição formal desta associação ainda não foi acordada, mas até ao final de Novembro ela estará no terreno a alertar para a necessidade de melhorar as acessibilidades e alterar consciências.

Como é que surge a APTA?
A APTA – Associação Portuguesa de Turismo Acessível Para Todos surgiu no âmbito de umas acções de formação da APPC – Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral – de Coimbra, que tiveram lugar na Rota da Luz, de Maio a Julho deste ano. Durante essas sessões, notou-se a existência de uma lacuna neste sentido, de falta de acessibilidades nas várias vertentes do turismo. Todo o grupo - somos cerca de 15 - está ligado ao turismo de alguma forma, ou à questão das acessibilidades e necessidades especiais.

Quais são os objectivos desta associação?
O principal objectivo é a normalização dos padrões de acessibilidade, trabalhando com a oferta e com a procura. Pretendemos trabalhar no sentido de melhorar os espaços e os acessos para as pessoas e fazer chegar essa informação aos visitantes. O turista - quer tenha limitações físicas ou não - decide fazer uma viagem. Consulta-nos e nós sugerimos um percurso acessível, construído em função das limitações de cada pessoa. Fazemos uma rota, incluímos os vários hotéis… Até porque, enquanto associação, vamos sugerir um leque de opções, e cabe à pessoa, depois, escolher.
De que forma é que a APTA pretende ser acessível para todos?
O próprio suporte de informação será também completamente acessível. Temos um portal que está a ser construído de forma a ser acessível por todas as pessoas, folhetos informativos e cartões de visita, tudo está a ser pensado para normavisuais e invisuais. É nosso objectivo criar uma base de dados no sentido de captar empresas, grupos, associações, que se juntem a nós, colaborem, de forma a que a própria comunidade interaja connosco.

Este trabalho de requalificação vai passar muito pela Câmara?
Depende. Há muita coisa que pode ser feita sem que seja preciso gastar muito dinheiro. É preciso ver o que está mal e que soluções existem para os problemas. Há coisas que podemos alterar facilmente… Por exemplo, na rua João Mendonça, temos o passeio, cheio de elevações, depois um candeeiro mal posicionado, depois os cartazes das pastelarias no passeio… Basta isso para que a pessoa, no espaço de poucos metros, tropece.

E as restantes intervenções?
Não nos podemos esquecer que, mesmo com um percurso mais ou menos acessível, a cidade está aberta, a pessoa vai andar por aqui. Basta descer do autocarro e tropeçar no passeio, que está todo mal feito, para se magoar. Por isso há uma série de acções que terão ter de ser feitas pela comunidade e pelas instituições. Aveiro não tem casas de banho públicas – a que há está ocupada por uma senhora e um cão! A própria Rota da Luz tem más acessibilidades… Há coisas que nem nos apercebemos, mas basta vir com um carrinho de bebé ou de muletas que já se nota. Mas acho que só o facto da associação estar a ser criada e de falarem em nós vai fazer com que as pessoas parem e reflictam – e esse é o primeiro passo para a mudança de mentalidades. O turismo é uma máquina de fazer dinheiro, e quando os agentes turísticos se aperceberem que estão a perder certos segmentos de negócio, vão começar, eles próprios, a intervir.

E há a questão das mentalidades…
Claro, para além das barreiras arquitectónicas, temos a barreira da consciência das pessoas. Falta algum respeito pelos outros. Os particulares, as pessoas que têm os restaurantes, as lojas de artesanato, todos eles têm de se adaptar para receber bem pessoas com deficiências, com cadeira de rodas, invisuais, idosos. É preciso despertar as consciências, formar as pessoas, educá-las para essas questões. Estão previstas acções de formação nesse sentido, é um dos nossos principais objectivos. Até porque um passeio arranja-se, uma rampa põe-se, mas mudar a cabeça das pessoas é um bocadinho mais difícil. E sabemos que existem pessoas que se deslocam em cadeira de rodas que evitam sair de casa porque não se sentem à vontade.

Essa mudança não terá de passar também pela legislação?
A legislação já existe, e entrou em vigor em Fevereiro a nova versão, revista. Mas, não se sabe porque razão, ela não é cumprida. Bastava cumprir o que está na lei que os acessos estavam garantidos.

A APTA tem apoios locais?
Temos apoio técnico, jurídico e mesmo em termos de recursos humanos por parte da Rota da Luz. A Câmara cedeu uma morada na Casa da Cultura. Foi-nos dito que a casa está a ser re-estruturada, e que teremos um espaço físico quando terminarem as alterações. E temos feito cerco cerrado às instituições da região, que tem sido bem recebido.
Também é importante dizer que a associação tem sede em Aveiro, mas o objectivo é trabalhar a nível nacional, no futuro. Queremos expandir através dos Welcome Centres – Centros de Boas Vindas aos Turistas -, que serão bancas de informação colocadas juntos aos principais pontos turísticos. Queremos vir a ser uma referência ao nível da acessibilidade no turismo em Portugal.

Um sector economicamente atractivo
De acordo com a APTA, para além da questão da igualdade de direitos e oportunidades, o turismo acessível para todos encerra um forte potencial de negócio, factor atractivo para o sector dos serviços. Dados fornecidos pela associação revelam que a percentagem de individuos com incapacidade na Europa, no ano de 2006, corresponde a 10 por cento da população, o que equivale a cerca de 50 milhões de pessoas , em todo o mundo. Destas, 30 por cento serão incapazes de viajar, ou seja, 15 milhões de pessoas. A APTA antevê que, no turismo acessível. exista um potencial de 15 milhões de pessoas, que viajem duas vezes por ano. Ao todo, contabilizam-se 30 milhões de turistas internacionais, o que, prolongando a sua estadia por cinco noites, traduz um total de 150 milhões de dormidas em alojamento. Um estudo desenvolvido sobre o potencial de férias de turistas alemães com incapacidade declarada concluiu que 40 por cento dos inquiridos viu, pelo menos uma vez, renunciada a possibilidade de ir de férias devido à imposição de um elevado número de barreiras; e cerca de metade afirmou que viajaria mais se tudo se tornasse mais acessível. Tendo em conta que turistas com incapacidade viajam, habitualmente, acompanhados, o estudo estima que o retorno anual com turistas alemães com incapacidades poderá estar compreendido entre os 2,5 biliões e euros 4,8 biliões de euros, num ambiente turístico totalmente acessível.

Percurso Acessível
O Grupo de Trabalho com vista à criação da Associação de Turismo Acessível Para Todos vai realizar, no próximo domingo, dia 9, o seu primeiro percurso acessível para todos, intitulado «Aveiro Doce e Salgado». O local de partida é o edifício da Região de Turismo da Rota da Luz, onde serão organizados pequenos grupos que irão ficar a conhecer o percurso proposto pela APTA.

Soraia Amaro
in Diário de Aveiro
(edição de Domingo,
2 de Dezembro de 2007)


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